Dos quase encontros
Esta edição da newsletter é uma carta para minha amiga secreta, uma troca de textos que acontece pelo segundo ano seguido no grupo Newsletter BR. A amiga secreta é revelada no final da carta =)
Querida amiga secreta,
começo esta carta com uma confissão: a sua newsletter se acumula, há tempos, na minha caixa de entrada — junto às tantas outras que eu assinei, jurei que ia ler e não li.
O primeiro passo para conseguir te escrever esta carta, então, foi te ler. Olhei os títulos dos seus 25 emails não lidos na minha caixa de entrada e decidi começar pelo quase final: cliquei no quinto mais novo e, quando vi, me encontrei e me perdi de você.
Me encontrei porque, como em todo movimento de descoberta, procurei por pontes, conexões, coisas que nos aproximassem um pouco mais do que o fato de você e eu termos dois nomes. E logo nesse primeiro email estive junto contigo sem te encontrar por um triz: era a Flip, onde estivemos, coexistimos e talvez até tenhamos nos esbarrado sem saber. Morri de curiosidade de saber o que você achou daquela mesa, fiquei com vontade de ter participado de coisas que você viu e eu não, e imaginei como seria se tivéssemos declamado no mesmo sarau e não você num e eu noutro.
Já no email seguinte, ainda era Flip, mas também eram os desejos, as conquistas e as frustrações. Padrões repetitivos no mercado literário, tiques nervosos, manias de gente que se apresenta moderna, mas é conservadora. Branquitude, muita branquitude. São palavras suas, com as quais eu concordaria com a cabeça ouvindo falar se a gente não tivesse se desencontrado — ou melhor, não se encontrado — em Paraty. Neste email, ainda, me frustrei por não ter estado no seu lançamento, e revivi nas suas palavras o que senti antes do meu. Parabéns!
O terceiro email foi o que mais me pegou. Provavelmente é uma questão geracional, mais do que tudo, mas também são afetos em comum que eu fui descobrindo e revivendo junto contigo. Não fui a nenhum dos shows que você curtiu em 2023, mas ao te ler e te imaginar lá, posso dizer que estive em todos pelo menos um pouquinho. Mesmo sem te conhecer, a essa altura eu já sabia que cantamos as mesmas músicas e assistimos os mesmos Top 10, ainda que, com toda a certeza, os afetos que esses artistas movimentaram no meu eu adolescente tenham sido muito diferentes dos seus. O que me fez pensar: quem eu seria se, do alto daqueles 14 anos, não tivesse resistido à tentação de dançar Everybody em frente à TV? Coisas de menino, que eu demorei muito pra entender que não me serviam — talvez até demais.
Os dois últimos emails vieram para consolidar as pontes de afeto que os outros três começaram a construir. Adorei ler as mensagens para o futuro de tantas mulheres que eu admiro (e outras que ainda não conheço), e também nunca entendi a Marie Kondo. Sinto muita falta das coisas, as minhas coisas, que deixei para trás sem querer ter deixado. E olha que embaixo da minha cama ainda tem cartinha da namorada de 20 anos atrás...
Ao terminar de te ler, pensei em deixar as coisas maturarem na cabeça antes de te escrever, mas seu último email caiu como uma luva no sentido contrário: “Inicialmente ia te escrever sobre outro assunto, mas como toda carta que se preze, se você não começa logo no dia que decide escrever, a chance de o assunto mudar é grande…”
Então sentei, tomado por um sentimento estacionado entre parecer que te conheço e querer te conhecer, e percebi que esta carta é um pouco como um jogo de batalha naval: alguns navios seus eu reconheço e sei por que águas navegam, outros permanecem escondidos do outro lado da tela. Com o que já descobri, posso dizer, sem medo, que teríamos formado uma grande dupla no karaokê em Paraty cantando Zeca Pagodinho — ou quem sabe até arriscando uma Alanis?
É pouco, mas também é bastante, e pensando nisso eu te invoco outra vez: “É emocionante estar em coro, suados e exaustos, com tantas outras pessoas que, dentro de seus corpinhos, sentem e pulsam suas próprias experiências com o tempo”.
Te ler nestes cinco emails me fez sentir um tanto assim.
Termino, então, com um desejo e uma promessa para 2024.
Ano que vem, Paula Maria, espero que nossos caminhos possam se cruzar para além das telas, dos chats, dos quase encontros e das cartinhas de amigo secreto.
E prometo não deixar mais seus emails parados na caixa de entrada.
Tem tempo de sobra para isso — apesar do antropoceno.
Abraços,
Danilo Heitor.
Depois de bastante espera, meu terceiro livro de ficção, “Tanque de areia”, finalmente será lançado!
Farei o anúncio mais perto da data, mas já anotem na agenda: 19 ou 20 de janeiro, no Sol y Sombra, com direito a uma conversa sobre ficção especulativa, futuro, distopia e masculinidades.
Bora lá?
Eu também recebi uma cartinha de amigo secreto! E me emocionei muito com ela.
Quem me tirou foi a Luísa Manske, que eu ainda não conheço pessoalmente. A carta dela me tocou em vários lugares, tantos que eu ainda estou processando para poder escrever uma resposta.
Se você quiser ler, prepare um lencinho:
“Antes do fim” se propõe a ser um espaço de debate. Então, se qualquer trecho desta edição te deixou com vontade de falar alguma coisa, é só responder este email ou comentar na página, caso você esteja lendo direto no Substack.
Se você não sabe direito quem eu sou, clique aqui.
Se quiser me fazer uma pergunta anônima, clique aqui.
E se quiser conversar comigo em outras redes, você tem esta opção, esta outra e o meu email
Até a próxima edição!
Abaixo e à esquerda está o coração <3
Li com afeto e pensando que espero que o universo dê um jeito de me colocar nessa mesma mesa de bar ou karaoke :)
Muito obrigada pela carinhosa carta! Adorei acompanhar você me lendo e ligando nossos pontos em comum. ❤️ Que em 2024 a gente se encontre!